sábado, 29 de junho de 2019

Expedição Solstício de Inverno - terceiro dia


Após um dia de quase total repouso, em harmonia com a Natureza, acordei bem disposto para dar uma bela remada neste domingo 23 de junho. Preparei café abundante para levar um frasco cheio na canoa e tomar quando quiser. Sabendo que ia fazer só o café, acendi um fogo bem pequeno, o deixei consumir totalmente e o apaguei com um pouco de água, antes de cobrir as cinzas com umas pedras bem ajeitadinhas. Quero ver se alguém vai utilizar a "cozinha" do Campo Alfa, enquanto eu não voltar outra vez.
Levantado o acampamento, dei uma revista geral para não esquecer nada e, com duas viagens bem estudadas, transportei toda a tralha até a margem; com calma, estivei tudo direitinho na canoa, Estou viajando, nesta aventura, com três baldes com tampa de 20 litros cada, assim identificados: 1. cozinha, 2. despensa, 3. rede & roupa. Quando o acampamento não está muito perto da canoa, os baldes restam a bordo e eu escolho só o que me serve, que carrego nuns sacos de lona, ou couro, que tenho para esse fim. 


Remontamos o rio por alguns quilômetros, até uma grande rochedo no meio das águas, onde eu gosto de parar para tomar um belo banho; isso, porque lá não tem lama nem agua-pés. Quando me preparo para dar uma boa remada por umas horas, tomo um banho de rio com toda a roupa para combater o grande calor do sertão.
Eu gosto muito mais de considerar o ponto final do remonte do rio Caraú nessa pedra que chegar até por baixo da ponte da BR. Assim, logo ao voltar pro remo, dirigi a canoa para a outra margem do rio e apontando pra grande baía dos Três Postes.
Com vento neutro, uma brisa suave para deixar o dia menos quente, fomos vagueando rio abaixo, até não ficar com fome.
Para não perder tempo em parar na margem, me dirigi para uma arvore seca no meio do rio e ali apoitamos, com a ajuda de um cabinho.
Cabeça gosta demais dos biscoitos de centeio, assim o esquema ficou desse jeito: de cada biscoito, 2/3 para mim e 1/3 pra ela, não tem erro.


 Revigorado, depois do lanche, segui remando até não chegar aos pés da Itatinga (pedra branca, do tupi: ita e tinga), o maior morro da região, do alto do qual se tem uma visão panorâmica sensacional.
Nunca dormimos perto da Itatinga, portanto fui procurando um bom local onde acampar acompanhando a margem do rio. Numa estreita faixa de areia, decidi parar a canoa e conferir a pés a existência de um cantinho especial para pernoitar.
Logo identifiquei um bom local e fui aperfeiçoar as amarras da canoa. Com o dia ainda quente, descarreguei apenas o necessário e nos abrigamos na sombra de uma arvore acolhedora.
Por volta das quatro, após outro lanche energético, escalamos o rochedo e andamos até a base da Itatinga, deixando para subir até o topo dela na manhã seguinte.
Voltamos ao local escolhido em tempo útil para organizar o acampamento antes que fosse escurecer. Com serra e tesoura de jardinagem, limpei a área e juntei um pouco de lenha pro fogo da cozinha. Uns pedaços maiores, eu tinha levado comigo desde o Campo Alfa mesmo, porque é sempre bom ter uma reserva de lenha suficiente para fazer um pequeno fogo onde for que a gente chegue.
A nova bainha de couro da serra revelou-se bem útil para segurar os galhos e raminhos espinhentos, tão típicos de muitas arvores da caatinga.
Pro jantar preparei um cuscuz de milho ao vapor, que comi com uma saladona de legumes crus e umas sardinhas.
No balanço da rede, contei três, dois, um e entrei no mundo dos sonhos.


Fotografia de Jack d'Emilia

Um comentário:

Ricardo Oliveira disse...

Meu Deus!!! Isso é um sonho! Eu acho que você foi no paraíso. Parabéns! Sua narrativa também é ótima. Vontade imensa de ter vivido tudo isso!