domingo, 30 de junho de 2019

Expedição Solstício de Inverno - quarto dia


Eu estava sonhando alguma coisa que não me lembro bem, quando acordei com um solavanco que Cabeça me deu com o focinho; provavelmente, já acordada a um bom tempo, ela me despertou pra gente não perder a hora e escalar a Itatinga antes que o dia ficasse muito quente.
Acendi o fogo para preparar o café, comi um pouco de fruta e alguns biscoitos de centeio. Além da porcentagem de biscoitos que lhe corresponde, Cabeça comeu um bocadinho de ração e bebeu bastante água.
Juntos com uma sempre útil tesoura de jardinagem, guardei numa bolsa de lona um frasco com café quente, o meio pacote de biscoitos, que tinha sobrado, e a câmera fotográfica. No cinto, uma boa faca, e na mão, minha bengala de bambu. 


Além de ser em geral um auxilio nas caminhadas, a bengala é muito útil nas trilhas na caatinga para prevenir encontros indesejados com cobras peçonhentas: eu ando batendo a bengala nas pedras que encontro para avisar as cobras de nossa presença. As cobras avisadas ficam entocadas.
Saímos do acampamento escalando o rochedo e caminhamos pelo tabuleiro até a base da Itatinga. No topo dela, um grupo de cabras ficaram observando toda nossa façanha, incrédulas que fôssemos chegar lá em cima.
Na verdade, eu já escalei esse rochedo muitas vezes e conheço duas diferentes trilhas para chegar no topo, escalando a encosta menos íngreme do penhasco.
Quando chegamos lá no alto, as cabras manifestaram evidentemente o descontento gerado pela gente ter subido até lá; por um momento, houve uma tensão no ar, mas os dois jovens bodes do grupo não se sentiram de encarar-nos e, quando alcançamos o topo, se dispersaram nas pedras.
Na sombra de algumas pequenas arvores espinhentas, descansamos vinte minutos, admirando o panorama. Do alto da Itatinga dá para ver toda a região na qual remamos nesses dias. Calculei do alto o itinerário melhor para o retorno à base mais tarde. Tem que dar uma volta grande, passando pelo lado externo da ilha, que com o atual volume da barragem ficou unida à margem por uma longa língua de terra e pedras.


De volta ao acampamento, tomamos um belo banho refrescante no rio e descansamos uma horinha na sombra de uma grande pedra na margem.
Acendi o fogo e preparei um almoço gostoso para ficar com boa vontade na hora de remar à tarde: uma bela panelada de legumes salteados no azeite, com dois ovos. Cabeça experimentou e deu aval positivo.
Conhecedor do perigo de um vento forte contrário a partir das três, três e meia, o terrível vento norte, quando deu a uma e meia, arrumei toda a tralha na canoa. Levantei o acampamento, deixando como única marca de nossa passagem a pequena poda que dei nas duas arvores por baixo das quais armei minha rede e nada mais. Como faço sempre que posso, utilizei um local já destinado pelos pescadores a acender o fogo.
Às duas horas da segunda 24 de junho, saímos remando do Campo Itatinga, ao pé do rochedo homônimo, em direção a extrema ponta da ilha, onde dar a volta para retornar ao Sítio Araras.
Com um ventinho de sudeste que não ajuda nem atrapalha, fui remando e curtindo o panorama, com céu azul e o calorzão do sertão. Quem mais sofre nesse calor é Cabeça, que fica escondida na sombra de uma lona, deixando-se molhar um pouco para aguentar mais.


Com a construção branca do estaleiro das lanchas da vila como referência, segui remando entre as ilhotas que se formam no meio do grande lago. A superfície da água, apenas encrespada pela brisa, parece um óleo escuro e brilhoso.
Por volta das três e meia, chegamos no porto das canoas do Sítio Araras. Mais uma bela aventura chegada ao fim.
Feliz? Sim. Cansado? Nem tanto.
Não se preocupe, que vai ficar sim; antes de encerrar as atividades, ainda é preciso levar no braço a canoa e todo o equipamento para casa!
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Fotografia de Jack d'Emilia

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