quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Todo cuidado é pouco



Ao imaginar uma aventura na Natureza no sertão brasileiro, muitas pessoas logo pensam ao contato direto com a vida selvagem e, consequentemente, ao eventual encontro com animais perigosos, sejam eles com garras e dentes afiados ou com presas e ferrões peçonhentos.
No Vale do Assu, sertão do Rio Grande do Norte e teatro das nossas aventuras em canoa, são poucos os animais potencialmente perigosos nos quais deparar "de verdade".
Já não tem mais onças nesta região há algumas décadas . São raras as jaguatiricas e pouco frequentes os avistamentos de guaxinins. Seja o pequeno felídeo que o característico cachorro-do-mato da região vivem no terror de ser caçados e mortos. Ao perceber de longe a presença humana, não perdem tempo e fogem em disparada.
A filosofia IGARUANA é de total harmonia com a Natureza. Em relação ao mundo animal, nós agimos com profundo respeito à vida. Em geral, não matamos nenhum bicho, que não seja o peixe que eventualmente pescamos para comer.
Ao deparar com qualquer tipo de animal, limitamo-nos a observá-lo e, se for o caso, a fotografá-lo, deixando sempre que siga livre pro seu caminho. 
Isso também se for um exemplar de alguma especie potencialmente perigosa, como algumas cobras, os escorpiões, umas aranhas, as abelhas ferozes etc...
Algumas famigeradas cobras peçonhentas sul-americanas são também tipicas desta região, mas, por quanto pareça impossível  durante nossas muitas aventuras em canoa e a pé no Vale do Assu, desde 2008, nunca tivemos a ocasião de encontrá-las de perto.
São elas a cascavel e a jararaca, que pudemos conhecer e observar bem só mortas, ou prestes a ser, pois é costume sertanejo não deixar viva uma ameaça dessa pros familiares e os animais domésticos que andam por ali.  
Com a exceção da jararaca, mau-caráter e de índole agressiva, todas as cobras às quais deixamos uma via de fuga digna sem ameaça-las, preferem sair de fininho que enfrentar o bicho-homem, que é, afinal das contas, o mais perigoso de todos.
Bom, na verdade, isto vale com a maioria dos animais, que geralmente, evita partir pro ataque ao ser humano sem razão, limitando-se, quando não fugir logo, a assumir uma postura defensiva de espera. Isso acontece com maior frequência quando o bicho-homem não manifesta alguma agressividade (visual, vocal ou manual) e deixa bem clara a solução pacifica do caso. 
Ao longo de muitos anos de vivência diária na Natureza, aperfeiçoamos uma pratica de firme não-beligerância com o mundo animal, tendo qualificado positivamente os resultados obtidos com nossa atitude em todos os campos.
Teríamos uma série quase infinita de anedotas para contar sobre este mútuo respeito instaurado com a bicharada, mas vamos deixá-las para outra ocasião.
Além disso, naturalmente, para conter ao minimo as situações criticas é muito importante ter todo o cuidado para evitar os encontros acidentais, que às vezes poem gente e bicho em situações extremas das quais ambos não sabem como sair. 
É bom entender que é quase sempre em seguida a encontros casuais e imprevisíveis que o acidente infausto pode acontecer.
Por isso vamos elencar agora algumas precauções básicas que ajudam a prevenir os acidentes graves durante nossas expedições.

• Olhos sempre bem abertos! ...e ouvido atento, também!
Preste sempre muita atenção por onde anda, onde senta ou mete as mãos. De vez em quando, pare um momento e escute os barulhos da Natureza. Afine a sensibilidade dos seus sentidos. Observe. Escute.

• Sacuda bem seus sapatos antes de calçá-los novamente. Faça o mesmo com toda a roupa, antes de vestir-se. Vire as meias ao avesso para examina-las e bata as luvas de tecido que usamos quando remamos. A aranha marrom (brown spider, ou também banana spider, no Exterior) adora ficar nos sapatos alheios. Olhe dentro do seu chapéu também, antes de colocá-lo na cabeça. Nunca se sabe o que pode conter. De repente, você vai achar um pequeno escorpião³, curioso e indiscreto.

• No acampamento, depois de montada, mantenha sempre bem fechada a barraca. Bata sempre a rede antes de deitar nela e sacuda lençóis e cobertores antes de usá-los.

• Nas trilhas, use o sapato apropriado para pisar com total segurança em terrenos acidentados. Sugerimos botas ou tênis de cano alto, solado grosso e antiderrapante. Quando achar necessário, utilize também luvas de couro para proteger as mãos. Não esqueça que algumas arvores e outras plantas tipicas da caatinga estão cheias de espinhos.  
Uma bengala, também se improvisada com uma vareta ou um pedaço de pau, se revela muito útil nas caminhadas. Use-a também para percutir as pedras que encontrar no meio do caminho. Uma cobra entocada pouco distante perceberá as vibrações geradas pelas batidas e ficará escondida.

• Não deixe restos de comida espalhados no acampamento depois das refeições e guarde bem fechados todos os mantimentos. À noite, enquanto nós dormimos, muitos animais silvestres procuram seu alimento. Se der bobeira, eles fazem a festa.

• Não desafie nem brinque com bichos, até os domésticos  que não conhece. Nunca se pode prever qual será a reação do animal.

• Afaste-se rapidamente ao localizar ou apenas perceber a presença de uma colmeia, sempre protegida por abelhas guardiãs, que o seguirão ameaçadoramente até uma boa distancia. Não reaja: simplesmente, se afaste rapidamente do local. Algumas especies de abelhas ferozes são umas das exceções citadas acima: para defender a colmeia, elas estão dispostas a morrer, cravando seus ferrões na vitima incauta.
O ataque de um enxame numeroso pode se transformar num acidente grave, com consequências sérias e urgentes cuidados médicos.

• Fique longe dos formigueiros e tome cuidado com todos os pequenos seres que andam aos seus pès. A mordida da formiga vermelha é muito dolorosa e a dor persiste por horas. Nunca ande descalço, principalmente à noite, quando não vê onde mete os pés.

• Fique bem atento aos avisos de algum perigo imediado que receber. Por sua maior segurança, faça logo o que lhe for sugerido pelos membros mais experientes da expedição.

Acostumando-se logo a praticar essas precauções básicas  você como todos os outros IGARUANA, anteriores, presentes e futuros, vai ter só boas recordações de suas inesquecíveis aventuras em canoa no Vale do Assu.
Com certeza!



¹ Nas cercanias de São Rafael, em proximidade da foz do rio Serra Branca, existe uma Pedra da Onça no alto de um rochedo, chamada assim ainda hoje pelos pescadores locais porque uma reentrância no alto dela já foi no passado morada de alguma onça, um bicho chamado feroz, que foi exterminado pelo pacificador ser humano.

² A jararaca é uma cobra temperamental que não tolera visitas inesperadas. Se entrar no território dela, a jararaca se ergue ameaçadora e vem pra cima. O veneno dela é poderoso: em caso de acidente é fundamental correr pro hospital mais perto. Não por nada, a jararaca destaca-se no topo da lista de acidentes com cobras peçonhentas no Nordeste. 
No Seridó conta-se que Agosto é o mês do "namoro" das cobras! Nesta época é mais fácil encontra-las, seja de dia que à noite, manifestando-se, até parece, com maior agressividade. 

³ Sem considerar as formigas, que na Caatinga ocupam aos milhões cada quilometro quadrado de chão, onde for que seja, o escorpião amarelo é o bicho peçonhento que mais facilmente poderemos encontrar durante nossas aventuras. A ferroada é dolorosa, mas geralmente sem consequências sérias.