terça-feira, 29 de julho de 2014

Vestigios do Vale do Assu de outrora

Foto original de Tito Rosemberg
 
Apesar das boas chuvas do inverno de 2014, o nível da Barragem ARG está ainda muito baixo e o Vale do Assu, menos alagado que nunca no mês de março passado, aparece bem diferente aos nossos olhos. 
Desde o fim de 2012, muitas ruínas da antiga cidade de São Rafael vieram à tona no meio da barragem. Quem já morou na cidade antiga, abandonada e reconstruída uns quilômetros mais pra lá, reconheceu uma porção de piso do velho ginásio e os alicerces de algumas casas e um comércio, que estavam na parte mais alta da cidade original. 
Do cartão postal e símbolo da cidade, a antiga torre da igreja, uma porção da qual ficou à vista por anos no meio do rio, não sobrou nada. Repentinamente, ela ruiu em meados de dezembro de 2010, numa madrugada. Dois pescadores numa canoinha, que estavam pondo uma rede entre as pedras, escutaram o barulho e foram os primeiros a não ver mais a torre da igreja velha. Um toquinho de construção, que se vê agora surgindo das águas, fazia parte de uma parede da igreja, mas não da torre, me explicou outro pescador, Canindé. 
Na outra margem do rio, aos pés da Serra das Pinturas, encontramos durante nossas excursões muitos vestígios da presença humana, antes que essa porção do Vale do Assu, a maior bacia hidrográfica natural da região, ficasse alagada em consequência da edificação da barragem. 
Resto de diferentes tipos de construção testemunham usos e costumes locais, típicos do sertão nordestino. Muros de pedras para demarcar terras e recintos de animais, muros de tijolos maciços para as casas. Em toda esta região, tem muitos tocos de mourões e estacas de cercas antigas que ficam submersos: isso é o maior perigo para as nossas canoas. É preciso aproximar-se à margem com todo o cuidado, uma canoa por vez, identificando os obstáculos com cautela. 
Em um grande terreno plano sobre o qual voltou a bater o Sol depois de muitos anos, encontramos algumas telhas de formato e tamanho b
em diferente do atual e muitos cacos de louças de barro e cerâmica. Escolhi umas telhas inteiras dessas e levei pro Sitio Araras. Vou tentar descobrir a origem e a idade delas. Pendurei uma delas numa parede lá em casa, pois é uma telha incomum e bonita de ver-se.
Nas ruínas de uma dessas construções nas quais esbarramos durante uma caminhada, um espanhol, que participou de uma nossa expedição em canoa em 2013, encontrou uma colher enegrecida pelo tempo, talvez de prata, que levou consigo como lembrança da aventura no sertão. 
Procuramos nos rochedos, que reemergiram ultimamente, novas pinturas e gravuras rupestres, inéditas pelo menos aos nossos olhos, mas não encontramos nada por enquanto. É muito comum que as “itacoatiaras”, as pedras pintadas da pré-história, fiquem perto de antigos cursos ou olhos de água. 
 Amigos do Sitio Mutamba, no município de Jucurutu, nos sinalizaram algumas “coisas de índio”, como eles dizem, numa ilhota toda de pedras perto da ilha Timbaúba, mas numa primeira visita ao local não encontramos nada. Voltaremos com mais calma.