SCHWENNHAGEN, Ludovico
As Inscrições da Pedra Lavrada
e as riquezas minerais da Serra da Coruja
Minha primeira viagem de estudos, pelo interior do Rio Grande do
Norte, limitou-se a seis municípios do Sudeste do Estado. A tarefa
principal foi verificar a afamada inscrição de Pedra Lavrada e indagar o
significado desse documento petroglífico, em relação com as riquezas
mineiras do subsolo daquela região. Um engenheiro brasileiro descobriu
a inscrição, há 50 anos, na margem dum rio, saindo da Serra de
Borborema, no limite entre Paraíba e Rio Grande do Norte.
Ele copiou o texto e apresentou uma cópia ao imperador dom Pedro II,
com essa vaga indicação do lugar da sua existência. Naquele tempo
não existia ainda nenhuma das vilas e cidade daquela região, e
ninguém ainda falava em estradas de rodagem, para percorrer o árido
serto do Nordeste.
No Rio de Janeiro, a cópia da inscrição ficou fotografada e publicada, e
nos meios intelectuais levantou-se uma extensa discussão sobre o
assunto. Diversos sábios acharam a inscrição muito importante, mas o
partido dos incrédulos, que negou qualquer valor do petróglifo, ficou na
maioria. Por isso encarregou Dom Pedro o 1o Juiz de Maceió, um senhor
muito erudito e familiar nos problemas da pré-história brasileira, de
fazer uma viagem ao sertão da Paraíba, para examinar a inscrição. O
juiz voltou, três meses depois, declarando que nenhum dos habitantes
da região indicada lhe pôde dar qualquer informação a respeito da
suposta inscrição. Por esse motivo, chamaram os jornais do Rio de
janeiro a ‘pedra lavrada do Nordeste’, uma grande ‘blague’. Diversos
livros, porém como ‘As Duas Américas’ de Cândido Costa e a ‘Pré-
História Sul Americana’ de Alfredo de Carvalho, deram a fotografia da
inscrição, sem qualquer restrição no tocante à sua realidade.
Mas, com tudo isso, não tinha encontrado a afamada pedra lavrada,
que mandou examinar dom Pedro II. Um cidadão, porém, disse-me
existir, no lado do Rio Grande, mais um lugar de nome Pedra Lavrada;
talvez ali pudesse eu encontrar a procurada inscrição. Então, fui a
Parelhas e ali o chefe do novo município, major Antão Elisiário Pereira
declarou-me, com certeza, que esse lugar se achava perto da cidade de
Jardim do Seridó, onde fica construída uma grande ponte sobre o rio do
mesmo nome. Em Jardim, informou-me o prefeito municipal, Dr.
Heráclio Pires, que o lugar da ponte tem realmente o nome ‘Pedra
Lavrada’, e que ali se acham letreiros, que ainda ninguém tinha
decifrado. Poucas horas depois, estivemos na ponte, a qual ficará uma
obra monumental, construída com os recursos financeiros do município,
auxiliado pelo Governo Federal. Em companhia do engenheiro Dr.
Emílio Alcoforado, examinamos as inscrições, e logo a primeira era a
apetecida ‘Pedra Lavrada’, cuja cópia foi apresentada a Dom Pedro II. A
parede lisa e polida da pedra, onde está a inscrição, tem a largura de
140 cm e a altura de 120 cm, exatamente como declarou o primeiro
descobridor. A forma é retangular com um afixo estreito redondo, no
canto inferior do lado direito, que mostra já a antiga fotografia. A
parede
da pedra é verticalmente cortada com ferramentas agudas na laje
decliva, que forma a margem do rio. A suposição de que essa parede
pudesse ser cortada por instrumentos de madeira dura ou de pedra,
como usaram os silvícolas, e mais a idéia de que a água do inverno
tivesse cavado essa parede, e que os índios errantes tivessem escrito
essas letras e sinais por ociosidade não merecem ser discutidas. As
inscrições de ‘Pedra Lavrada’ são feitas por homens que chegaram ao
Brasil de um país de alta cultura, da Fenícia ou do Egito, e que
escreveram nestas pedras qual serviço eles tinham aqui executado.
Parece inegável que o texto da inscrição é o relatório do chefe duma
expedição mineira. Embaixo, no meio da escrita, está o monograma do
chefe, um sistema usado em centenas de inscrições de escrita demótica
dos Egípcios. No outro conteúdo se acham 42 letras da demótica e 15
sinais da mineração. A cópia tirada há 50 anos difere um pouco da
cópia tirada por mim. O primeiro copiador não tinha ainda prática de ler
os antigos letreiros, e depois a escritura já foi muito gasta, no correr de
dois milênios, o copiador fica sempre obrigado a completar as letras,
conforme seu próprio conceito. Também se admira porque o primeiro
descobridor não copiou ou estudou as outras 8 inscrições, dentre as
quais algumas mais importantes do que a primeira.
Essas outras são escritas nas faces e chapas das pedras vivas. Não têm
paredes cortadas, lavradas ou polidas. A primeira pedra tem escrito em
faces um grande monograma artístico do chefe, que dirigiu
provavelmente a primeira expedição mineira. Seguem-se 7 outras
inscrições, cada uma com o monograma do respectivo chefe e com uma
chapa de orientação sobre o rumo e as distâncias das minas. A
inscrição na pedra lavrada e cortada foi talvez a última, cujo autor usou
um aparelhamento mais fino, e se repara ainda que as linhas gravadas
foram pintadas. O lugar das inscrições respectivas da grande ponte,
onde passa a estrada de Jardim a Caicó, era já na antigüidade uma
estação da grande estrada de penetração, que saiu de Touros para o
Sudoeste do Brasil. Dentro do território norte-rio-grandense é marcada
essa antiga estrada por dúzias de letreiros, que serão devidamente
explicados num tratado geral.
Da estação do Seridó saíram diversos ramais para as minas da Serra da
Coruja. Ali existem os vastos depósitos de cobre, que os peritos
mineiros da antigüidade descobriram com facilidade.
Ali eles encontraram também estanho, que ligado com cobre, dá o
bronze. Já 2.000 anos antes de Cristo, descobriram os artistas cários a
ligação do bronze, e desde aquele tempo procuraram os navegadores
fenícios em toda a parte esses dois metais preciosos, para fornecer
armas de guerra a todos os povos bélicos da antigüidade.
A Serra da Coruja, que se estende pelos municípios norte-riograndenses
de Acari, Parelhas e Jardim do Seridó e pelo município
paraibano de Picuí, contém ferro, manganês e cobre em jazidas
enormes, e estanho, níquel e enxofre em quantidades rendosas.
Nas inscrições da antiga mineração, são estanho e o níquel, indicados
pela meia-lua, a qual significa todos os metais de brilho de prata. Cobre
é indicado por um quadrilátero retangular arrendado com linhas
transversais. Com essa figura indicaram os mineiros egípcios todas as
minas de metais escuros. Mas, inscrições falam também de ouro e
pedras preciosas. A figura do sol sempre indica ouro e os raios ou
linhas de ligação indicam filões ou cascalhos de pedra branca, onde se
encontra o rei dos metais.
O quartzo puro é o amante do ouro; em geral o quartzo aurífero é
branco, com a cor de leite; mas ele pode ser também preto. Onde o
quartzo se misturou com elementos vermelhos ou azuis, o ouro não
entrou; – este também detesta o elemento enganador de mica ou
malacacheta.
No Brasil vale a regra: onde existe ouro, existe também quartzo branco;
mas não em toda parte onde está o quartzo branco existe ouro. Os
antigos mineiros conheciam essa regra, e o alvo principal dos
mercantes fenícios foi a procura de ouro e pedras preciosas. Essas duas
mercadoria compraram os reis e nobres do Egito, para acumulá-las nos
seus túmulos.
Crentes da ressurreição da carne, quiseram levar para sua vida futura
riquezas e adornos, correspondentes à sua dignidade anterior. Por isso
quando as expedições dos Fenícios, organizadas para perlustrar o
interior do Brasil, encontraram na região do alto Seridó os grandes
blocos de quartzo branco, logo elas começaram a procura de ouro.
No nosso planeta, talvez, não existe um outro país, onde o quartzo puro
branco existe em quantidades tão grandes, como na Serra da Coruja.
O viajante repara diversos montes altos, cobertos por pedras brancas,
como nos Alpes ou Andes os cumes altos são cobertos com eterno gelo
e neve. Além disso, cada morro ou serrote mostra 3 a 5 filões de
quartzo branco que saíram, na época da formação da crosta terrestre,
em estado líquido do fundo do nosso globo. Pelas grandes chaminés do
subsolo derramou sempre uma parte desse quartzo líquido e correu
para baixo, na pendente do monte. Esta é a origem das largas veias e
declivas, que se reparam em toda a parte da superfície da Serra da
Coruja.
Os peritos das expedições fenícias compreenderam logo, que ali
existisse um ‘el dorado’ por excelência. Tantas massas de quartzo
branco deviam conter ouro em abundância. Nos leitos de todos os
riachos se encontraram e se encontram hoje ainda, depois de grandes
chuvas, pequenas pepitas de ouro, desagregadas do quartzo
desmoronado. Também, em quase todos os filões de quartzo se
encontram pedaços brancos com ouro cravado. O rendimento em ouro,
porém, é pequeno”.
Mas, na Serra da Coruja a camada superficial é formada, com pedra
dura, com ferro, manganês e cobre. Ali o quartzo devia lutar com todos
esses elementos, e o ouro, devido ao seu peso três vezes maior, ficou
embaixo; somente pequenas quantidades podiam alcançar a superfície.
As inscrições indicam que os antigos mineiros abriram diversos filões de
quartzo e encontraram o ouro numa certa profundidade. Esse mesmo
trabalho deve-se repetir hoje, mas com o sistema aperfeiçoado da
mineração moderna.
Acho provável que a Serra da Coruja contenha muitas toneladas de
ouro, que se pode tirar, sem despesas extraordinárias. De pedras
preciosas existem na Coruja rubis, e turmalinas finas. As inscrições
indicam-no por uma linha vertical, com pequenas bolas em ambos os
lados. No município de Acari e na vizinhança de Picuí foram
encontradas muitas dessas pedras, que se deixam facilmente lapidar.
O Nordeste necessita urgentemente de novos recursos para seu
levantamento econômico e não pode ficar inativo perante essa grande
riqueza. São interessados os dois Estados do Rio Grande do Norte e
Paraíba. Ouro, cobre, manganês e ferro são os gigantes na ação
industrial e financeira da vida moderna. Uma nação que possui esses
gigantes e recusa o auxílio deles para seu desenvolvimento civilizador,
comete um crime contra si mesma. Mas existe uma condição
indispensável: O prolongamento das vias férreas até a zona mineira.
Nas costas de animais ou em caminhões não se transportam minérios
pesados. Sendo uma vez garantida a estrada de ferro, as empresas de
mineração não custarão a formar-se brevemente.