quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Os Fenícios no Rio Grande do Norte # 2

SCHWENNHAGEN, Ludovico 
As Inscrições da Pedra Lavrada 
e as riquezas minerais da Serra da Coruja 


Minha primeira viagem de estudos, pelo interior do Rio Grande do Norte, limitou-se a seis municípios do Sudeste do Estado. A tarefa principal foi verificar a afamada inscrição de Pedra Lavrada e indagar o significado desse documento petroglífico, em relação com as riquezas mineiras do subsolo daquela região. Um engenheiro brasileiro descobriu a inscrição, há 50 anos, na margem dum rio, saindo da Serra de Borborema, no limite entre Paraíba e Rio Grande do Norte. Ele copiou o texto e apresentou uma cópia ao imperador dom Pedro II, com essa vaga indicação do lugar da sua existência. Naquele tempo não existia ainda nenhuma das vilas e cidade daquela região, e ninguém ainda falava em estradas de rodagem, para percorrer o árido serto do Nordeste. No Rio de Janeiro, a cópia da inscrição ficou fotografada e publicada, e nos meios intelectuais levantou-se uma extensa discussão sobre o assunto. Diversos sábios acharam a inscrição muito importante, mas o partido dos incrédulos, que negou qualquer valor do petróglifo, ficou na maioria. Por isso encarregou Dom Pedro o 1o Juiz de Maceió, um senhor muito erudito e familiar nos problemas da pré-história brasileira, de fazer uma viagem ao sertão da Paraíba, para examinar a inscrição. O juiz voltou, três meses depois, declarando que nenhum dos habitantes da região indicada lhe pôde dar qualquer informação a respeito da suposta inscrição. Por esse motivo, chamaram os jornais do Rio de janeiro a ‘pedra lavrada do Nordeste’, uma grande ‘blague’. Diversos livros, porém como ‘As Duas Américas’ de Cândido Costa e a ‘Pré- História Sul Americana’ de Alfredo de Carvalho, deram a fotografia da inscrição, sem qualquer restrição no tocante à sua realidade. Mas, com tudo isso, não tinha encontrado a afamada pedra lavrada, que mandou examinar dom Pedro II. Um cidadão, porém, disse-me existir, no lado do Rio Grande, mais um lugar de nome Pedra Lavrada; talvez ali pudesse eu encontrar a procurada inscrição. Então, fui a Parelhas e ali o chefe do novo município, major Antão Elisiário Pereira declarou-me, com certeza, que esse lugar se achava perto da cidade de Jardim do Seridó, onde fica construída uma grande ponte sobre o rio do mesmo nome. Em Jardim, informou-me o prefeito municipal, Dr. Heráclio Pires, que o lugar da ponte tem realmente o nome ‘Pedra Lavrada’, e que ali se acham letreiros, que ainda ninguém tinha decifrado. Poucas horas depois, estivemos na ponte, a qual ficará uma obra monumental, construída com os recursos financeiros do município, auxiliado pelo Governo Federal. Em companhia do engenheiro Dr. Emílio Alcoforado, examinamos as inscrições, e logo a primeira era a apetecida ‘Pedra Lavrada’, cuja cópia foi apresentada a Dom Pedro II. A parede lisa e polida da pedra, onde está a inscrição, tem a largura de 140 cm e a altura de 120 cm, exatamente como declarou o primeiro descobridor. A forma é retangular com um afixo estreito redondo, no canto inferior do lado direito, que mostra já a antiga fotografia. A parede da pedra é verticalmente cortada com ferramentas agudas na laje decliva, que forma a margem do rio. A suposição de que essa parede pudesse ser cortada por instrumentos de madeira dura ou de pedra, como usaram os silvícolas, e mais a idéia de que a água do inverno tivesse cavado essa parede, e que os índios errantes tivessem escrito essas letras e sinais por ociosidade não merecem ser discutidas. As inscrições de ‘Pedra Lavrada’ são feitas por homens que chegaram ao Brasil de um país de alta cultura, da Fenícia ou do Egito, e que escreveram nestas pedras qual serviço eles tinham aqui executado. Parece inegável que o texto da inscrição é o relatório do chefe duma expedição mineira. Embaixo, no meio da escrita, está o monograma do chefe, um sistema usado em centenas de inscrições de escrita demótica dos Egípcios. No outro conteúdo se acham 42 letras da demótica e 15 sinais da mineração. A cópia tirada há 50 anos difere um pouco da cópia tirada por mim. O primeiro copiador não tinha ainda prática de ler os antigos letreiros, e depois a escritura já foi muito gasta, no correr de dois milênios, o copiador fica sempre obrigado a completar as letras, conforme seu próprio conceito. Também se admira porque o primeiro descobridor não copiou ou estudou as outras 8 inscrições, dentre as quais algumas mais importantes do que a primeira. Essas outras são escritas nas faces e chapas das pedras vivas. Não têm paredes cortadas, lavradas ou polidas. A primeira pedra tem escrito em faces um grande monograma artístico do chefe, que dirigiu provavelmente a primeira expedição mineira. Seguem-se 7 outras inscrições, cada uma com o monograma do respectivo chefe e com uma chapa de orientação sobre o rumo e as distâncias das minas. A inscrição na pedra lavrada e cortada foi talvez a última, cujo autor usou um aparelhamento mais fino, e se repara ainda que as linhas gravadas foram pintadas. O lugar das inscrições respectivas da grande ponte, onde passa a estrada de Jardim a Caicó, era já na antigüidade uma estação da grande estrada de penetração, que saiu de Touros para o Sudoeste do Brasil. Dentro do território norte-rio-grandense é marcada essa antiga estrada por dúzias de letreiros, que serão devidamente explicados num tratado geral. Da estação do Seridó saíram diversos ramais para as minas da Serra da Coruja. Ali existem os vastos depósitos de cobre, que os peritos mineiros da antigüidade descobriram com facilidade. Ali eles encontraram também estanho, que ligado com cobre, dá o bronze. Já 2.000 anos antes de Cristo, descobriram os artistas cários a ligação do bronze, e desde aquele tempo procuraram os navegadores fenícios em toda a parte esses dois metais preciosos, para fornecer armas de guerra a todos os povos bélicos da antigüidade. A Serra da Coruja, que se estende pelos municípios norte-riograndenses de Acari, Parelhas e Jardim do Seridó e pelo município paraibano de Picuí, contém ferro, manganês e cobre em jazidas enormes, e estanho, níquel e enxofre em quantidades rendosas. Nas inscrições da antiga mineração, são estanho e o níquel, indicados pela meia-lua, a qual significa todos os metais de brilho de prata. Cobre é indicado por um quadrilátero retangular arrendado com linhas transversais. Com essa figura indicaram os mineiros egípcios todas as minas de metais escuros. Mas, inscrições falam também de ouro e pedras preciosas. A figura do sol sempre indica ouro e os raios ou linhas de ligação indicam filões ou cascalhos de pedra branca, onde se encontra o rei dos metais. O quartzo puro é o amante do ouro; em geral o quartzo aurífero é branco, com a cor de leite; mas ele pode ser também preto. Onde o quartzo se misturou com elementos vermelhos ou azuis, o ouro não entrou; – este também detesta o elemento enganador de mica ou malacacheta. No Brasil vale a regra: onde existe ouro, existe também quartzo branco; mas não em toda parte onde está o quartzo branco existe ouro. Os antigos mineiros conheciam essa regra, e o alvo principal dos mercantes fenícios foi a procura de ouro e pedras preciosas. Essas duas mercadoria compraram os reis e nobres do Egito, para acumulá-las nos seus túmulos. Crentes da ressurreição da carne, quiseram levar para sua vida futura riquezas e adornos, correspondentes à sua dignidade anterior. Por isso quando as expedições dos Fenícios, organizadas para perlustrar o interior do Brasil, encontraram na região do alto Seridó os grandes blocos de quartzo branco, logo elas começaram a procura de ouro. No nosso planeta, talvez, não existe um outro país, onde o quartzo puro branco existe em quantidades tão grandes, como na Serra da Coruja. O viajante repara diversos montes altos, cobertos por pedras brancas, como nos Alpes ou Andes os cumes altos são cobertos com eterno gelo e neve. Além disso, cada morro ou serrote mostra 3 a 5 filões de quartzo branco que saíram, na época da formação da crosta terrestre, em estado líquido do fundo do nosso globo. Pelas grandes chaminés do subsolo derramou sempre uma parte desse quartzo líquido e correu para baixo, na pendente do monte. Esta é a origem das largas veias e declivas, que se reparam em toda a parte da superfície da Serra da Coruja. Os peritos das expedições fenícias compreenderam logo, que ali existisse um ‘el dorado’ por excelência. Tantas massas de quartzo branco deviam conter ouro em abundância. Nos leitos de todos os riachos se encontraram e se encontram hoje ainda, depois de grandes chuvas, pequenas pepitas de ouro, desagregadas do quartzo desmoronado. Também, em quase todos os filões de quartzo se encontram pedaços brancos com ouro cravado. O rendimento em ouro, porém, é pequeno”. Mas, na Serra da Coruja a camada superficial é formada, com pedra dura, com ferro, manganês e cobre. Ali o quartzo devia lutar com todos esses elementos, e o ouro, devido ao seu peso três vezes maior, ficou embaixo; somente pequenas quantidades podiam alcançar a superfície. As inscrições indicam que os antigos mineiros abriram diversos filões de quartzo e encontraram o ouro numa certa profundidade. Esse mesmo trabalho deve-se repetir hoje, mas com o sistema aperfeiçoado da mineração moderna. Acho provável que a Serra da Coruja contenha muitas toneladas de ouro, que se pode tirar, sem despesas extraordinárias. De pedras preciosas existem na Coruja rubis, e turmalinas finas. As inscrições indicam-no por uma linha vertical, com pequenas bolas em ambos os lados. No município de Acari e na vizinhança de Picuí foram encontradas muitas dessas pedras, que se deixam facilmente lapidar. O Nordeste necessita urgentemente de novos recursos para seu levantamento econômico e não pode ficar inativo perante essa grande riqueza. São interessados os dois Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba. Ouro, cobre, manganês e ferro são os gigantes na ação industrial e financeira da vida moderna. Uma nação que possui esses gigantes e recusa o auxílio deles para seu desenvolvimento civilizador, comete um crime contra si mesma. Mas existe uma condição indispensável: O prolongamento das vias férreas até a zona mineira. Nas costas de animais ou em caminhões não se transportam minérios pesados. Sendo uma vez garantida a estrada de ferro, as empresas de mineração não custarão a formar-se brevemente.