terça-feira, 31 de julho de 2018

Expedição Mesopotâmia - Assu a Pendências - 4º dia


- Anotações previas -
4 km de percurso em canoa. Uma passagem por pedras perigosas. Duas cercas, a primeira 1 km depois do Campo I, outra 200m depois. A 3 km de distancia do acampamento, encontra-se as ruínas de um poço, que mais parecem uma torre; está no comecinho de um canal, depois de uma bifurcação (pegar à direita). 400 m depois, passagem por pedras perigosas.
Acampamento: 500 m depois, numa ilha no meio do rio, está o Campo J.
Clima: parcialmente nublado, max 34º min 22º.
Dia para curtir a natureza, sem pressa nenhuma.

- Diário de bordo -
Assim como previsto em nossos planos, o quarto dia de aventuras foi dedicado ao descanso (mais que merecido, depois da atividade física extra do dia anterior), a meditação e a apreciação das belezas naturais.
Para começar bem, ainda tomando meu primeiro café, sentado à beira do rio, tive o prazer de ver passar na minha frente, nadando abaixo das águas transparentes contra a corrente, uma tartaruga de água doce. O povo do Vale do Assu não mata esse bicho para comer; só no caso necessite transforma-lo em remédio natural, pois dizem que sua banha é boa para a tosse.
Saímos do Campo 3 (MP/I) por volta das oito da manhã. O percurso do dia é todo de águas rasas, contudo desta vez não precisou descer da canoa para seguir à frente. A fundura do rio, apenas um pouco maior, garante a passagem das canoas IGARUANA, que requerem só quinze centímetros de água para deslocar-se. Assim, quando chegamos numa ampla várzea, descemos da canoa e andamos por um pouco com a água nas canelas, mais por costume que por necessidade.
Cabeça gosta demais de andar nessas águas rasas e correr atrás das aves, com seu forte espírito de caçadora.
Aí, eu inventei de conhecer um canal secundário no pé da margem alta direita. As arvores maiores nessa beirada oferecem boa sombra de manhã.
Depois de uma curva, avistamos um homem tomando banho de rio, o que será o único encontro com ser humano do dia. Antes de chegarmos com a canoa, o homem saiu da água, dono de uma barriga gigante. Quando eu dei bom-dia, ele logo disse "para, para! vamos conversar"; aí, eu encostei na margem e conheci Seo Aldo, do Sítio Bom Jesus, ou algo parecido. Ele me contou que quando aposentou-se voltou a morar no sítio onde nasceu. Eu contei um pouco de mim, conversamos mais um pouco disso e daquilo e eu dei um livrinho dos meus para ele de presente.
Seguimos nossa jornada e pouco depois paramos na sombra de uma alta arvore na beirada. Foi aquela pausa breve que a gente sempre dá, só para fazer um lanche rápido e voltar ao remo. O canal, que descobrimos desta vez, depois de um meandros, volta a reunir-se ao braço principal, justo antes que este forme outra larga área alagada. De longe, identificamos o local apropriado para passar as horas mais quentes do dia e para lá nos dirigimos: um grupo de arvores frondosas, num rochedo, com prainha de areia ao lado. Escolhi um bom local para ficar na sombra e, sem demora, deitei na areia fofa.
Já sem mais biscoitos caseiros, comi uma cenoura, uma laranja, uma maçã e um pedaço de queijo. Quando tem cheiro de queijo no ar, Cabeça sempre está por perto.
Ficamos nesse paraíso até às três da tarde, curtindo a paz natural do lugar, praticando o "dolce-far-niente".
Saímos da várzea por outro canal secundário, mas esse já conhecido: é aquele onde tem um antigo poço, que parece ser uma torre. No fim do canal, a passagem pelas pedras perigosas requer todo o cuidado. Saindo do canal já entramos em outra área alagada, formada por dezenas de ilhotas e canais emaranhados. Numa dessas ilhotas, está localizado o Campo MP/J, local de acampamento da quarta noite desta aventura.
Logo que aportamos, fomos dar uma caminhada para catar lenha. Com o acampamento montado e o fogão de campo aceso, preparei um bom chá de gengibre e depois uma gostosa sopa grossa de batata doce.
À noite, Cabeça demonstrou toda sua competência na proteção do acampamento, literalmente botando para correr duas vezes um cavalo curioso, que apareceu. O equino relinchou ameaçador, mas não voltou mais.
Noite linda de lua, dormi muito bem no Campo J.
Obs. 1: não encontramos as duas cercas de arame farpado previstas pro dia; talvez foram retiradas.
0bs. 2: à noitinha, apareceram no acampamento uns mosquitos bem miudinhos. Coloquei abundante repelente natural (que eu mesmo faço, com cravo-da-índia e óleo de coco) nas partes expostas e pronto.

Fotografia de Jack d'Emilia

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