- Anotações previas -
8 km de percurso; uma portagem, uma cerca, uma ponte. Portagem perto da
Estação de Bombeamento do Baixo Assu, onde tem uma pequena queda d'água
com pedras perigosas, 3,5km distante do Campo H; lembrar-se de encostar
na margem esquerda do rio, onde acontece a portagem. 500m depois da
Estação de Bombeamento, tem um local perfeito para um lanche na sombra.
1,8km depois, passagem por baixo do gasoduto da Petrobras: cuidado com
as sapatas das colunas. 3km livres até uma cerca, 50 metros antes da
ponte de Carnaubais. 400m depois da ponte, na margem esquerda,
acampamento no Campo MP/I.
Clima: ensolarado, max 34º min 21º
- Diário de bordo -
Na madrugada, ventou muito: uma cruviana fria, que me obrigou a vestir
outro agasalho no meio da noite. Acordei às cinco horas, com o primeiro
clarão do dia, antes do sol nascer. Sem perder tempo, chamei Cabeça por
um rolezinho e fomos caminhar um pouco nas cercanias, para tirar algumas
fotos. Eu tomei também um belo banho de rio, frio, mas Cabeça só molhou
as patas. Voltamos ao acampamento e comemos um pouco: fiz café em dobro
para levar e tomar durante o dia. À noite, nada de café: melhor um belo
chá de gengibre. Mas de dia...
Arrumada toda a tralha na canoa,
saímos do Campo L por volta das sete e meia, tendo como nossa primeira
meta a estação de bombeamento do Baixo Assu e a portagem necessária para
superar uma pequena queda d'água, que se forma lá.
Bem perto de
onde acampamos, o braço principal do rio, que estava até o momento
acompanhando a alta margem esquerda, dobra para direita e segue cortando
a várzea até chegar ao pé da outra margem alta. Ali, depois de outra
curva, o rio se estreita um pouco e ganha velocidade. Massa!
Às 9h,
avistei no alto da margem um homem numa carroça puxada por um cavalo. De
longe, eu acenei com a mão pra ele e ele fez o mesmo em resposta. Foi a
primeira pessoa que encontrei desde a madrugada do dia anterior, quando
os caçadores passaram pelo nosso acampamento.
A paisagem é
sensacional e a poluição sonora zero! Seguimos apreciando a paisagem até
chegar perto da estação de bombeamento. Ai encontramos o segundo ser
humano; um pescador, com seu landuá, que quando a gente passou
cumprimentou com um "Ôooow" e da mesma forma eu lhe respondi. Antes de
chegar perto demais das pedras, encostei a canoa na margem esquerda,
descemos e fomos estudar a situação. O desnível da queda d'água é
pequeno, mas as pedras continuam perigosas. Identificado o local melhor
para a portagem, rapidamente passamos o obstáculo e seguimos logo por
uns 500m até o local perfeito para fazer uma boa pausa e deixar passar
as horas mais quentes do dia.
Um grupo de umas vinte arvores, a
maioria das quais de porte baixo, servem como abrigo para o gado, nas
horas mais quentes. Enquanto estivemos lá, uns cavalos vieram se abrigar
em arvores perto daquela que nós ocupamos, a maior, com um gramado na
frente, que depois das onze fica na sombra. Lanchamos, descansamos,
escrevemos, pensamos bastante.
Às duas e meia, arrumamos as coisas e
voltamos ao remo. Ao remo mesmo, sim: após ter descido duas vezes o rio
Assu até Pendências, usando praticamente como meio de propulsão
unicamente o varejão (praticando o "poling"), estou determinado a usar
nesta aventura sempre, ou quase, o remo.
1km e meio depois, passamos
por baixo do gasoduto e seguimos sem parar. Paramos às três e quarenta,
já próximos a chegar na ponte de Carnaubais/RN, por um lanche rápido.
Quando chegamos a avistar a ponte, a surpresa foi grande! O braço
principal do rio estava entupido de plantas aquáticas por pelo menos uns
50m; impossível passar por lá. Passado o estupor inicial, me lembrei de
um canal secundário e voltei remando contra a corrente até a entrada do
canal. Logo me realegrei, porque vi que só tinha uns dez metros de
plantas para superar. Com o ímpeto de dois golpes de varejão, consegui
avançar entre as plantas com toda a canoa, então estava praticamente no
meio do caminho. Desci da canoa para ver o que fazer.
Cabeça, achando
que fosse terra firme, pulou nas plantas e mergulhou inteirinha na água:
não gosto nem um pouco, rapidamente nadou até a margem.
Eu descobri
que uma estaca com arame enroscado, caída no meio do canal, estava
segurando as plantas. Retirei a estaca do fundo do canal e as plantas
lentamente começaram a fluir de novo. Com as mãos, fui abrindo o caminho
até a canoa. Voltado ao remo, dei um suspiro de alivio por ter passado o
obstáculo, mas ainda era muito cedo para alegrar-se. Chegando mais
perto da ponte, ao unir-se ao braço principal, o canal ficou com uma
barreira de uns vinte metros de plantas, ou mais, que o separavam da
ponte. Por baixo da ponte mesma é onde as plantas ficam se engalhando
entre elas e obstruindo o fluxo. Pensei rápido, porque tinha só uma hora
de luz, antes do crepúsculo. Pulei de novo da canoa e fui ver como
solucionar o caso. Cabeça foi atrás, pulou na água, nadou até a margem e
de lá ficou supervisionando as operações. Escolhi a passagem entre dois
pilões da ponte, onde eu pudesse ficar com os pé no fundo e comecei a
abrir caminho entre as plantas até a canoa. Foi um trabalho duro e
demorado. O caminho que eu abria, logo se fechava de novo, a menos que
eu não conseguisse empurrar pra corrente grandes porções de plantas
todas juntas. Fiquei lutando assim mais de uma hora, com a água até o
peito no meio de um mar de plantas boiando, sem nem querer pensar nos
perigos da situação. Terminei o serviço, puxando a canoa pro outro lado
da ponte, às cinco e quarenta, já escurecendo.
Exausto, mas
bem-sucedido, subi na canoa e comecei a remar. Liguei o GPS para não
perder o local certo do acampamento, sem ter que procurar na penumbra do
crepúsculo.
Com um sopro de vento forte, ainda toda molhada, Cabeça ficou batendo os dentes sem parar, pobre dela!
Rapidamente chegamos ao Campo MP/I. Depois ter amarrado bem a canoa,
tirei a roupa enlameada e tomei um banho demorado, esfregando todo o
corpo com a escova para roupa. Com a mesma escova, depois enxaguei as
calças e a camisa, que estava usando na hora, e as coloquei a secar num
varal improvisado.
Ainda passei a esponja no fundo da canoa, para deixa-la seca e limpinha, depois relaxei.
Cansado, decidi não perder muito tempo para preparar o jantar,
acendendo o fogo etc. Preparei rapidinho uma salada de pepino, cebola e
cenoura, que comi com todos os biscoitos e queijo em cubos. Cabeça me
ajudou a comer o queijo rss
Depois de comer ainda fiquei mais de uma
hora, sentado na cadeirinha à beira do rio, pensando no imprevisto do
dia. Pensei até numa outra solução para superar esse tipo de obstáculo,
que experimentarei futuramente. Na hora, pensei rápido e deixei o
obstáculo por trás, mas foi bastante cansativo.
O maior luxo, depois
de passar umas horas imerso na água até o peito, com roupa e tudo, é
dormir um bom sono, com roupa quente e sequinha, no balanço da rede, com
o céu como teto. Boa noite!
Fotografia de Jack d'Emilia
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