terça-feira, 7 de agosto de 2018

Expedição Mesopotâmia - Assu a Pendências - 6º dia


- Anotações previas -
6 km de percurso em canoa. Três cercas: a primeira a 1,8 km do acampamento, as outras duas cerca de um quilômetro depois, distantes uma da outra cem metros.
A barragem de terra de Pendências, ponto final de nossa jornada, cria uma larga área alagada nos últimos dois quilômetros de percurso e alguns canais se abrem na margem esquerda do braço principal. Cerca 1 km antes do ponto final o rio dobra de 90º para NE e segue na reta final

- Diário de bordo -
Acordamos bem cedinho. Sem nem acender o fogo para fazer um café, fomos dar uma caminhada nas redondezas. O gado criado solto marca uma trilhas bem interessantes para se percorrer com certa segurança. O importante é não perder o orientação e saber voltar pro lugar de partida. Desta vez, a gente voltou pro acampamento caminhando dentro da água na margem do rio, com Cabeça pulando dentro e fora o tempo todo,
Café quente, fruta, queijo e uma batata doce cozida no café da manhã. Depois, comecei a arrumar todo direitinho, já pensando em organizar a tralha para ser transbordada facilmente da canoa pro carro que verá nos buscar a Pendências, às 3h da tarde.
Com tudo arrumado a bordo, apaguei o fogo, enterrei as cinzas e deixei o local assim como o encontrei, talvez alguma folha seca não ficou exatamente no mesmo lugar rss
Saímos remando bem devagar, porque o ponto final está a breve distancia. O primeiro trecho do percurso do dia é o mais bonito, então não temos pressa nenhuma nessa parte. Na canoa, eu estou deixando o rio me levar de bubuia e com o remo estou só mantendo o rumo certo.
Por baixo de uma arvore na beirada, fizemos nossa parada breve. Com o Sol já alto, por ter saído atrasados do Campo K, deveríamos seguir logo por mais um pedaços para parar só às onze, por uma pausa maior. Assim, decidimos que iríamos procurar o local certo para parar, depois de ter passado a primeira cerca no meio do rio.
Seguimos remando por mais meio quilômetro e, de repente, justo a duzentos metros de distancia da tal cerca (segundo meu aparelho GPS), o rio se transformou num jardim de plantas aquáticas boiando e fechando completamente a passagem por uma extensão muito grande.
Num primeiro momento pensei que indo de bubuia poderia ter me confundido e entrado em alguma bifurcação errada. Encostei a canoa e desci para ver se tinha alguém por ali. Bem longe, a uns 250 m de distancia tinha alguns homens trabalhando provavelmente numa bomba de irrigação. Sendo as únicas pessoas à vista no momento, fui até lá caminhando, por baixo do sol quente. Quando chegamos a uns trinta metros de distancia deles, que tinham parado de trabalhar e estavam só olhando pra gente, comecei a falar. Perguntei e me responderam que aquele era mesmo o braço principal do rio, o único aliás nesse trecho, atualmente. Agradeci e voltei caminhando até a canoa, que não perdi de vista porque tinha me lembrado de içar um lenço no topo do varejão plantado na areia. Voltei para a canoa já pensando em como, quando e onde ativar o plano B. Encostei a canoa numa sombra pouco distante na outra margem do rio, que é onde passa a estrada de asfalto. Subi a margem um pouco íngreme, só para me orientar e ver onde estava. Lá no alto, deu para ver que a estrada passava a cerca de dois quilômetros de distancia do rio, não muito longe, mas ainda precisava encontrar o local certo para efetuar o resgate; um bom local deveria ter acesso de carro e uma margem não muito alta, para poder carregar canoa e tralha sem muita dificuldade.
Seguindo perto da margem, subi o rio por umas centenas de metros parando duas vezes para examinar locais que poderiam ser bons, quando de longe vi que por baixo de umas grandes mangueiras, a cerca 50 m de distancia, que existia, além de uma bomba, uma certa infraestrutura e provavelmente uma estrada de terra. Chegando mais perto, vi que tinha encontrado o local certo onde esperar o taxista vir me buscar. Uma caminho de areia subia até a margem alta do rio e de lá começava uma estrada de terra, muito pouco frequentada, aparentemente.
Voltei à canoa. Guardei tudo direitinho. Bebi uns bons goles de água, comi uma laranja. Todo vestido, tomei um banho refrescante, depois calcei as botas, peguei a bolsa de couro e improvisei um guia para Cabeça com um cabinho que achei no balde preto.
Caminhamos aproximadamente os dois quilômetros que eu estimei que fossem, quando avistei finalmente uma casa. Mas antes de chegar à casa, conheci seu dono, que estava mexendo alguma coisa lá numa tubulação, numa área plantada com dezenas e dezenas de pé de mamão, todos do mesmo tamanho, todos da mesma altura. Caboclo arretado, Zé de Dedinho, natural de Pendências, gosta de comer peixe, mas não de pescar. Sempre foi agricultor, me disse.
Rapidamente, expliquei a situação pro homem que, chegados na varanda de casa, me ofereceu água, café e depois me disse: "Relaxe, que agora vamos ligar para esse taxista vir lhe buscar aqui na minha casa. Enquanto esperamos, vamos almoçar".
Bueno! Como eu sempre digo, depois da saúde, só quero um pouco de boa sorte na hora certa rss
E assim foi. Liguei pro Seo Luís e almocei na casa de Zé de Dedinho, um novo amigo que tenho lá em Pendências, agora.
Para ele também, acabei deixando um dos meus livrinhos sobre o Setestrelo de presente, mais que merecido. Simpaticamente, ele me disse, ao despedir-nos: "agora já sabe onde marcar pro táxi vir lhe buscar na próxima vez que descer o rio até Pendências; e não se avexe de chegar sem avisar, que aqui sempre será bem-vindo". Grande Zé de Dedinho!

Fotografia de Jack d'Emilia

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