- Anotações previas -
10 km de percurso em canoa, sem obstáculos relevantes.
Acampamento no Campo MP/H.
Clima: parcialmente nublado; max 32º min 22º.
Dia perfeito para montar o toldo na canoa, sem precisar desmonta-lo para passar por cercas etc.
Clima: parcialmente nublado; max 32º min 22º.
Dia perfeito para montar o toldo na canoa, sem precisar desmonta-lo para passar por cercas etc.
- Diário de bordo -
Acordamos antes do amanhecer, porque quatro caçadores passaram por
perto de nosso acampamento e chamaram a atenção de Cabeça, que logo me
avisou. Bom, domingo bem que é dia de caçador de fim de semana; em pouco
mais de uma hora, passaram dez homens, fora um que era pescador, todos
os outros armados de alguma espingarda, rifle ou carabina. Os mais
curiosos pararam para conversar um pouco comigo, pedir fogo para acender
um cigarro e trocar quatro palavras.
Acendi o fogão de campo e
preparei um bom café forte, que tomei junto com quatro biscoitos
integrais, para dar inicio às atividades com boa vontade.
O
itinerário do segundo dia não tem obstáculos relevantes, assim, como
tinha já planejado, montei na canoa um pequeno toldo para a pobre de
Cabeça, que não usa chapéu de palha nem óculos; um pouco de sombra, para
ela sofrer menos com o calor e a forte claridade do dia. O toldo, meio
improvisado, é feito com um tecido retangular de nylon, que já foi rede
de camping de um amigo, duas varetas de barraca, com aproximadamente
4,5m de comprimento cada, duas varetas de bambu, cada uma com um metro, e
24 prendedores de roupa, que servem para fixar o tecido às varetas.
Embarcada toda a tralha a bordo e preparado mais um café para viagem,
apaguei bem o fogo, enterrei as cinzas e deixamos o local por volta das
oito da manhã.
Levados por uma leve correnteza, entramos numa
região da várzea do rio Assu com pouquíssima frequentação humana. O mais
relevante, a propósito disso, é a ausência quase total de lixo. Para
minha vista, isso é fantástico!
Logo que nos afastamos dos
caçadores, os estampidos de suas armas ficaram longínquos e prevaleceu a
tranquilidade sonora do canto de aves e pássaros.
Nem passada uma
hora, paramos num lugar sensacional, na sombra de umas arvores baixas,
mas com ampla visão por todo lado da natureza exuberante da
"mesopotâmia" do Vale do Assu. Fora as centenas de aves e pássaros, o
que mais avista-se por essas bandas são bovinos e equinos, criados
soltos no pasto. Vacas e cavalos ficam meio surpresos quando chegamos em
nossa canoa brilhante, mas, vendo que não demonstramos alguma maldade,
acabam logo se acostumando a nossa presença.
Lanchamos com frutas, queijo e alguns biscoitos. Foi uma parada breve, só quinze/vinte minutos.
Voltamos à canoa e remando seguimos o caminho de nossa jornada até às
onze horas, quando encontramos o local perfeito para passar as horas
mais quentes do dia. Um grupo de arvores verdes de copa cheia, que
oferecem uma boa sombra, com chão de areia mantido limpo de babugem e
arbustos espinhentos pelo gado que frequenta o local. Logo tomamos um
banho refrescante, com roupa e tudo, depois escolhi um lugar bom para
armar a cadeira de praia baixa, que tanto conforto me proporciona no
meio da natureza, com sua sentada aconchegante.
Cabeça, como sempre
nessas ocasiões, fica fuçando por todo lado até não encontrar um osso
para roer, ou uma cabeça de peixe, também ela gosta. Eu fico pensando,
pensando, escutando o silêncio da natureza e escrevendo com lápis comum
minhas anotações no caderninho que sempre carrego comigo. Tomo uns goles
de café morno e quando ficar com fome, como uma fruta, ou um biscoito.
Depois da uma da tarde, o céu ficou nublado e soprou um vento forte por
uma meia hora. A seguir foi enfraquecendo, mas não parou.
Quando
deu umas duas horas, começamos a organizar tudo para seguir viagem e
logo na sequencia saímos remando. Com o céu nublado e o ventinho, achei
bom desmontar logo o toldo.
Por volta das quatro e meia, chegamos
nas proximidades do Campo MP/H, mas (surpresa!) o canal que dá acesso ao
local de acampamento está totalmente tomado por plantas aquáticas, que
impedem a passagem.
Trata-se da Eichhornia crassipes, conhecida
popularmente como aguapé, ou jacinto-d'água. É considerada uma das
piores espécies invasoras de rios de curso lento e lagoas de água doce.
Amarrada a canoa a um arbusto na margem, rapidamente fui procurar outro
local propicio onde pernoitar e, encontrado-o, fundei o Campo MP/L, a
menos de sessenta metros do outro. Sempre tem que achar o lado positivo
nesses imprevistos, assim cogitei que a localização talvez seja até
melhor que a do outro acampamento, por causa da vista mais ampla que
possui.
Atracada a canoa na margem, ao pé do acampamento, ainda
fiquei mais de uma hora sentado nela, com os pés na água, apreciando o
crepúsculo. Momentos em que o tempo para e só os pensamentos fluem.
Por isso, tive que acender o fogo já usando a lanterna de cabeça para
iluminar a operação. Primeiro preparei um abundante chá de gengibre,
para tomar à vontade; esta é uma bebida que a principio só tomava
quando estava com dor de garganta e afins e que agora aprecio seja
quente que fria. Eu gosto de fazer um chá de gengibre forte, com um
sabor intenso e meio picante. Depois do chá, coloquei meu jantar no fogo: outro
arroz com legumes etc.
Esperando o jantar ficar pronto, voltei à
canoa, para admirar o anoitecer, com um copo cheio de chá quente e três
nacos de queijo, dois pra mim e um pra Cabeça rss
Fiquei pensando
que este segundo dia de aventura foi um verdadeiro dia estilo "wild horses",
com pastos verdes a perder de vista e muitos e muitos cavalos criados
soltos, que passam o dia nas margens do rio e as horas mais quentes na
sombra de alguma arvore.
Reencontramos inclusive, hoje, uma égua
cinza, de porte médio, com uma pata dianteira aleijada, na qual eu tinha
já reparado em outra ocasião. Ela fica nervosa e logo mostra que tem
dificuldade de andar, agitando a pata rígida. Numa hora dessa,
comunicação verbal e gestual são fundamentais. Eu logo chegando mostrei
minha mão aberta pra ela e disse "calma, calma" bem lentaaaaaamente,
para tranquiliza-la, o que realmente aconteceu. Aí, sempre levados pela
exígua correnteza, disse ainda pra égua "calma, que estamos só de
passagem. tchauzinho sua linda" e dei uma remada maneira para sair de
fininho.
Fotografia de Jack d'Emilia
Nenhum comentário:
Postar um comentário