sábado, 28 de julho de 2018

Expedição Mesopotâmia - Assu a Pendências - 2º dia


- Anotações previas -
10 km de percurso em canoa, sem obstáculos relevantes. 
Acampamento no Campo MP/H.
Clima: parcialmente nublado; max 32º min 22º.
Dia perfeito para montar o toldo na canoa, sem precisar desmonta-lo para passar por cercas etc.

- Diário de bordo -
Acordamos antes do amanhecer, porque quatro caçadores passaram por perto de nosso acampamento e chamaram a atenção de Cabeça, que logo me avisou. Bom, domingo bem que é dia de caçador de fim de semana; em pouco mais de uma hora, passaram dez homens, fora um que era pescador, todos os outros armados de alguma espingarda, rifle ou carabina. Os mais curiosos pararam para conversar um pouco comigo, pedir fogo para acender um cigarro e trocar quatro palavras.
Acendi o fogão de campo e preparei um bom café forte, que tomei junto com quatro biscoitos integrais, para dar inicio às atividades com boa vontade.
O itinerário do segundo dia não tem obstáculos relevantes, assim, como tinha já planejado, montei na canoa um pequeno toldo para a pobre de Cabeça, que não usa chapéu de palha nem óculos; um pouco de sombra, para ela sofrer menos com o calor e a forte claridade do dia. O toldo, meio improvisado, é feito com um tecido retangular de nylon, que já foi rede de camping de um amigo, duas varetas de barraca, com aproximadamente 4,5m de comprimento cada, duas varetas de bambu, cada uma com um metro, e 24 prendedores de roupa, que servem para fixar o tecido às varetas.
Embarcada toda a tralha a bordo e preparado mais um café para viagem, apaguei bem o fogo, enterrei as cinzas e deixamos o local por volta das oito da manhã.
Levados por uma leve correnteza, entramos numa região da várzea do rio Assu com pouquíssima frequentação humana. O mais relevante, a propósito disso, é a ausência quase total de lixo. Para minha vista, isso é fantástico!
Logo que nos afastamos dos caçadores, os estampidos de suas armas ficaram longínquos e prevaleceu a tranquilidade sonora do canto de aves e pássaros.
Nem passada uma hora, paramos num lugar sensacional, na sombra de umas arvores baixas, mas com ampla visão por todo lado da natureza exuberante da "mesopotâmia" do Vale do Assu. Fora as centenas de aves e pássaros, o que mais avista-se por essas bandas são bovinos e equinos, criados soltos no pasto. Vacas e cavalos ficam meio surpresos quando chegamos em nossa canoa brilhante, mas, vendo que não demonstramos alguma maldade, acabam logo se acostumando a nossa presença.
Lanchamos com frutas, queijo e alguns biscoitos. Foi uma parada breve, só quinze/vinte minutos.
Voltamos à canoa e remando seguimos o caminho de nossa jornada até às onze horas, quando encontramos o local perfeito para passar as horas mais quentes do dia. Um grupo de arvores verdes de copa cheia, que oferecem uma boa sombra, com chão de areia mantido limpo de babugem e arbustos espinhentos pelo gado que frequenta o local. Logo tomamos um banho refrescante, com roupa e tudo, depois escolhi um lugar bom para armar a cadeira de praia baixa, que tanto conforto me proporciona no meio da natureza, com sua sentada aconchegante.
Cabeça, como sempre nessas ocasiões, fica fuçando por todo lado até não encontrar um osso para roer, ou uma cabeça de peixe, também ela gosta. Eu fico pensando, pensando, escutando o silêncio da natureza e escrevendo com lápis comum minhas anotações no caderninho que sempre carrego comigo. Tomo uns goles de café morno e quando ficar com fome, como uma fruta, ou um biscoito.
Depois da uma da tarde, o céu ficou nublado e soprou um vento forte por uma meia hora. A seguir foi enfraquecendo, mas não parou.
Quando deu umas duas horas, começamos a organizar tudo para seguir viagem e logo na sequencia saímos remando. Com o céu nublado e o ventinho, achei bom desmontar logo o toldo.
Por volta das quatro e meia, chegamos nas proximidades do Campo MP/H, mas (surpresa!) o canal que dá acesso ao local de acampamento está totalmente tomado por plantas aquáticas, que impedem a passagem.
Trata-se da Eichhornia crassipes, conhecida popularmente como aguapé, ou jacinto-d'água. É considerada uma das piores espécies invasoras de rios de curso lento e lagoas de água doce.
Amarrada a canoa a um arbusto na margem, rapidamente fui procurar outro local propicio onde pernoitar e, encontrado-o, fundei o Campo MP/L, a menos de sessenta metros do outro. Sempre tem que achar o lado positivo nesses imprevistos, assim cogitei que a localização talvez seja até melhor que a do outro acampamento, por causa da vista mais ampla que possui.
Atracada a canoa na margem, ao pé do acampamento, ainda fiquei mais de uma hora sentado nela, com os pés na água, apreciando o crepúsculo. Momentos em que o tempo para e só os pensamentos fluem.
Por isso, tive que acender o fogo já usando a lanterna de cabeça para iluminar a operação. Primeiro preparei um abundante chá de gengibre, para tomar à vontade; esta é uma bebida que a principio só tomava quando estava com dor de garganta e afins e que agora aprecio seja quente que fria. Eu gosto de fazer um chá de gengibre forte, com um sabor intenso e meio picante. Depois do chá, coloquei meu jantar no fogo: outro arroz com legumes etc.
Esperando o jantar ficar pronto, voltei à canoa, para admirar o anoitecer, com um copo cheio de chá quente e três nacos de queijo, dois pra mim e um pra Cabeça rss
Fiquei pensando que este segundo dia de aventura foi um verdadeiro dia estilo "wild horses", com pastos verdes a perder de vista e muitos e muitos cavalos criados soltos, que passam o dia nas margens do rio e as horas mais quentes na sombra de alguma arvore.
Reencontramos inclusive, hoje, uma égua cinza, de porte médio, com uma pata dianteira aleijada, na qual eu tinha já reparado em outra ocasião. Ela fica nervosa e logo mostra que tem dificuldade de andar, agitando a pata rígida. Numa hora dessa, comunicação verbal e gestual são fundamentais. Eu logo chegando mostrei minha mão aberta pra ela e disse "calma, calma" bem lentaaaaaamente, para tranquiliza-la, o que realmente aconteceu. Aí, sempre levados pela exígua correnteza, disse ainda pra égua "calma, que estamos só de passagem. tchauzinho sua linda" e dei uma remada maneira para sair de fininho.

Fotografia de Jack d'Emilia

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