sexta-feira, 27 de julho de 2018

Expedição Mesopotâmia - Assu a Pendências - 1º dia


- Anotações previas -
8 km de percurso em canoa; 6 cercas de arame farpado, todas na primeira metade do percurso: a primeira dista um km e meio do ponto de partida, a segunda menos de 50m depois, a terceira a 250m de distancia, a quarta 400m depois, a quinta 800m depois e a sexta a 150m de distancia da outra.
Acampamento no Campo D.
Clima: max 34º min 23º, probabilidade (30%) de chuva à tarde, com vento forte a partir das 15h.

- Diário de bordo -
O taxista, Seo Luís, que me leva até o ponto de partida da aventura e vem me buscar no ponto final, chegou quinze minutos antes da hora marcada. Eu estava com tudo pronto desde a noite anterior. Carregamos a canoa no bagageiro de teto do carro, toda a tralha, o cachorro, e saímos do Sítio Araras às sete e quinze; chegamos ao balneário de Assu/RN meia hora depois.
Realmente, como alguns amigos comentaram comigo, o rio Assu está com um volume sensivelmente maior; isso depende do aumento da vazão da barragem, que subiu de 3 m³/seg para 5,5 m³/seg, quase o dobro. Dá para ver a diferença no fluxo de água que passa pelas manilhas, hoje abundante e um ano atrás escasso.
Descarregada canoa e tralha, me despedi do taxista, marcando dia, hora e local de nosso encontro, cinco dias depois, na próxima quinta.
Enquanto estava ajeitando toda a tralha no lugar certo na canoa, apareceu um curioso e conversamos um pouco. Morador da Baviera, nome daquela área rural de Assu, ele me disse que era possível que fosse chover nos dias seguintes. Eu me lembrei que justo um ano antes, peguei uma chuva das grandes no Campo MP/K e disse pro homem que se fosse chover, eu ia achar bom. Conversamos mais um pouquinho e acabei presenteando-o com uma cópia do meu livrinho sobre o Setestrelo.
Às oito horas, enfim, zarpamos por mais uma aventura na "mesopotâmia" do Vale do Assu. Cabeça no convés de proa e eu a popa, no remo. Aproximadamente uma hora depois, passamos pela primeira cerca de uma série de quatro; duas a menos das que encontramos da última vez.
Desde o ano passado, eu já virei mais que experto em passar por baixo das cercas de arame farpado estendidas de uma margem para outra dos rios. A técnica é simples; o mais importante de tudo é manter toda a carga por baixo da borda da canoa. Dependendo da situação, basta apenas levantar um pouco o arame, no local escolhido como mais apropriado, e passar por baixo. Em alguns casos, é necessário soltar a amarra do arame numa estaca e depois deixar de novo tudo como estava.
Com céu ensolarado e pouco vento, a manhã ficou logo quente; após uma breve parada na sombra de uma arvore na margem (eu, sem nem descer da canoa), seguimos rio abaixo de bubuia até às onze, quando encontramos um bom local para passar as horas mais quentes do dia.
Não sei como nem onde, Cabeça logo arranjou um osso para roer e ficou quietinha na sombra. Eu comi quatro biscoitos, tomei um suco de laranja espremido na hora, dei uns goles de café morno e, na santa paz do barulhento silencio da natureza, me dediquei à minha atividade preferida: pensar! rss
Por volta do meio-dia, o céu ficou nublado e um vento forte soprou por uma meia hora, agitando a superfície do rio. De longe, se escutam os disparos dos caçadores em ação. Fora isso e os sinos de algumas vacas ao pasto, só se escuta o canto dos pássaros.
Quero assinalar aqui, que hoje, com o calor do dia, os biscoitos integrais caseiros, no pote de plástico vedado, começaram a suar um pouco; bastante típico do centeio. Assim, deixei o pote aberto para eles secarem mais um pouco, sem suar tanto.
Por volta das duas e meia da tarde, seguimos nossa viagem e pouco mais de uma hora depois, chegamos ao acampamento: o Campo 1 desta aventura é o MP/D, onde MP está por "mesopotâmia". O acampamento dista cerca de um quilômetro da periferia sul de Ipanguaçu/RN; o fundamos em ocasião da primeira Expedição Mesopotâmia, em companhia de Pierrôt (nosso amigo Pierre Cabrol), no mês de abril de 2017.
Logo que chegamos, tomei um banho refrescante nas águas cristalinas, que correm na frente do acampamento, e depois fui catar lenha para acender o fogo. No meu sertão, fora quando está chovendo muito, se encontra lenha seca com facilidade o ano inteiro. Descarregada parte da tralha, acendi o fogo e preparei um abundante chá de gengibre. Calcei as botas e, armado todo o acampamento, com Cabeça fomos dar uma caminhada nas redondezas. Voltamos em tempo para utilizar as brasas no fogão de campo para reavivar as chamas.
Pro jantar preparei um arroz com legumes, com alho, azeite de oliva e cúrcuma. Depois, tomei mais um copo de chá, pensando nos acontecimentos do dia, e, finalmente, me preparei para dormir. Deitado na rede, com gorro de lã, dois agasalhos de frio e o poncho como cobertor, dormi rapidinho.

Fotografia de Jack d'Emilia

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