sábado, 26 de agosto de 2023

Caminhada na mata

Caminhar na mata é bom demais! A contato direto com a Natureza, podemos regozijar-nos com todos os sentidos e, com um pouco de sorte, avistar algum bonito exemplar da fauna silvestre em seu hábitat natural.

Não dá para embrenhar-se numa trilha na mata de bermuda, camiseta e sandália. O fator segurança — fundamental em qualquer atividade ao ar livre — deve ser considerado em todos os pormenores, a começar das roupas que vestimos. Aqui vão algumas minhas sugestões.

[foto 1] Para uma caminhada simples, sem exigências especiais, eu sugiro utilizar umas calças jeans, folgadas e resistentes, com uma camisa de algodão de mangas compridas. A melhor opção de calçados é um bom par de botas para trilhas, resistentes, com solado esculpido para ter uma pegada firme e cano médio ou alto para dar suporte aos tornozelos.

[foto 2] Um chapéu de palha de aba normal protege do sol, mas também mantém afastados do rosto folhas, galhos e cipós nos quais podemos esbarrar no meio do caminho. Dos mesmos perigos, os óculos protegem os olhos; não é recomendado usar óculos de lentes muito escuras, pois caminhando por baixo das árvores pode ter luminosidade reduzida. As luvas de tecido são uma proteção básicas para as mãos, evitando o contato direto com plantas urticantes e formigas agressivas. Em caso a caminhada tenha um nível de dificuldade maior, podemos utilizar luvas de couro. 

Um lenço de algodão grande — 70 x 70 cm é um bom tamanho — tem tantas utilidades que eu sugiro levar dois, não só um.

Um bastão de bambu, com um metro de comprimento, é leve e resistente; um válido apoio suplementar durante a caminhada nas trilhas de solo irregular, serve também para afastar o folhame do caminho e manter à distância algum cachorro nervoso que esbarrar na nossa frente. Utilizamos o bastão como extensão do braço para remexer nas pedras, folhas secas etc. que possam esconder algum perigo (cobra, escorpião, formigas). Caminhando, bater o bastão nas pedras — tok tok — de vez em quando, avisa as cobras da nossa presença; as vibrações das batidas chegam até elas, que ficam entocadas para evitar ser mortas à toa. Quem preferir, pode usa um cajado em lugar do bastão.

[foto 3] Indispensáveis ao sair por uma caminhada, um cantil de água fresca e um pequeno lanche energético e frugal (fruta, castanhas, rapadura). Em caso a excursão dure o dia inteiro, a quantidade de alimentos e água deverá ser maior, mas sem exagerar na hora de comer e beber. 

[foto 4] Sobre a faca e o isqueiro não precisa dizer muito, são objetos úteis que devemos usar com todo cuidado para evitar ferir-se ou tocar fogo na floresta toda.

A lanterna de cabeça pode tornar-se útil se a caminhada durar mais que o previsto e o anoitecer pegar-nos no meio do caminho.

Um apito pode ser útil em caso seja preciso pedir ajuda, numa situação de emergência. Saiu da trilha e se perdeu, ou machucou e não pode andar; não fique em pânico, beba um pouco de água e sinalize sua posição desta forma:

- dê três apitos com duração de 3 seg. cada, com 2 seg. de pausa entre eles

- coloque as mãos em cone ao redor da boca e grite "sooo - cooo - rrooo" com toda sua voz.

Repita isso três vezes, com uma pausa de um minuto entre elas. Deixe passar quinze minutos antes de repetir. Fique na escuta, não perca a calma. Repita o processo até algum soccorso chegar.

RECOMENDAÇÕES

- respeite a natureza; não mate os animais silvestres, inclusive os que lhe parecem insignificantes ou nojentos; não corte inutilmente a vegetação; não acenda um fogo, se não for cozinhar; não descarte lixo durante a caminhada

- coloque seu equipamento e acessórios numa bolsa a tiracolo ou numa mochila; fique com as mãos livres

- faça pausas breves e lanches leves

- caminhando, não olhe pro panorama; olhe para onde anda e coloca os pés; olhe pra sua frente a dez metros de distância, depois olhe pra esquerda e direita à breve distância. Para olhar o panorama e tirar foto, pare por um minuto num local apropriado e seguro

- se não conhecer bem a região, dê preferência a trilhas já existentes, frequentadas eventualmente por moradores locais; saia da trilha por uma breve variante , mas volte nela para seguir o percurso principal da jornada 

- sempre avise alguém sobre suas atividades, especificando o local da caminhada e a duração estimada

- se não tiver muita experiência, domínio dos rudimentos de orientação, prevenção dos acidentes e primeiros socorros, pratique atividades ao ar livre em companhia de quem sabe o que fazer. Existe uma vasta gama de literatura específica a respeito disso: leia, aprenda e ponha em prática para testar seu conhecimento 

ADVERTÊNCIAS

ALÉRGICOS a picadas de insetos, plantas urticantes etc: dobre os cuidados costumeiros e leve os medicamentos que possa ser necessário tomar

ALÉRGICOS a caminhadas na mata: fique em casa e assista a um documentário na tevê; afinal, cada um gosta do que quiser 

quarta-feira, 13 de julho de 2022

O pescador e o vento

Foto de Minotauro 

O pescador e o vento

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"Muito vento hoje. Agora que passou o inverno, quem dita lei no pedaço é o vento. A pesca foi boa? A pesca foi ruim? Depende do vento. Foi caçar isca (camarão) no canto e não conseguiu? Foi por causa do vento. É assim todo dia. Só não venta de manhãzinha, ao raiar do dia. Pelo resto, nesta época do ano pode ventar forte a qualquer momento e atrapalhar o serviço".

O sertanejo nordestino chama de inverno a estação da chuva, qualquer que seja a época do ano. A estação do inverno começou de fato há algumas semanas, nesta banda do planeta, mas pouco importa. O caboclo sertanejo, pescador, caçador, agricultor, que lê os sinais da Natureza, tem referências diretamente relacionadas ao meio ambiente do qual faz parte, que se distinguem das convenções oficiais.


Chaf chaf chaf chaf. A canoinha vem remontando o rio com o frenético remar de um único homem a bordo. As cadelas latiram, eu dei o bom dia e me levantei da cadeirinha. 

O pescador sem pensar duas vezes deu um jeito no remo e encostou na margem, segurou um galho e depois passou um cabinho no mesmo para amarrar a canoinha.

Cabeça, que conhece e entende bem as palavras "fique tranquila", sentou-se calmamente, sem chegar perto do homem. Branquinha, desconfiada, ficou vigiando de longe, depois relaxou ela também.

Ofereci café, ele não quis. Ofereci fumo, aceitou; arrochou um cigarro de fumo preto que comprei na feira para essas ocasiões e para entregar ao Caipora, se aparecer pra mim.

Agachou-se no fundo da canoa e ficou pitando enquanto durou a conversa. Achei bonita a canoa dele, semi-nova, esguia, com apenas duas tabuinhas finas como bancos. À diferença do pescador do Vale do Assu, o remador ribeirinho do Parnaíba usa um único remo tipo pagaia e fica à proa da embarcação.

Ele me disse, quando indaguei, que foi ele mesmo quem construiu a canoa e que gastou setecentos reais nela. Logo acrescentou que Zé do Café vende uma novinha com quatro metros de comprimento por dois mil.

Falei para ele do ano novo dos povos originários do Nordeste, das festas juninas e dei pra ele um livrinho do Setestrelo. Mostrei para ele meu nome na capa do folheto. Ele me disse que aprendeu a ler e escrever, mas que esqueceu; iria pedir para a sobrinha ler meu livrinho pra ele.

Assim como chegou, foi embora; rapidinho deu algumas remadas para afastar-se da margem. Parou por um momento, levantou o braço para despedir-se e me disse em voz alta, como se tivesse lembrado só na hora de fazê-lo, o nome dele: Firmino Vivaldo.

Seguiu remando.

Chaf chaf chaf chaf....

terça-feira, 7 de junho de 2022

Canoa canadense com flutuador lateral (outrigger canoe)

Canoa canadense com flutuador lateral, projetado, construido e acoplado para garantir maiores estabilidade e capacidade de carga para a canoa que será utilizada em aventuras de média e longa duração.
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A canoa de fibra de vidro foi produzida artesanalmente em 2008 pela "Canoa & Cia" em Londrina PR.
Trata-se do mod. Cherokee com 4,90 m de comprimento e 90 cm de boca.
As travessas tem 2 metros de comprimento e distam uma da outra 1,5 m.
São feitas com caibros de madeira.
O flutuador foi construido com compensado de 6 mm e laminado com tecido de fibra de vidro e resina poliéster. Tinta final na cor preto fosco. O flutuador tem 2,10 m de comprimento e 38 cm de boca. Uma escotilha de 35x29 cm dá acesso ao interior, que constitui um amplo bagageiro. A tampa da escotilha, feita de compensado envernizado, tem 40x33 cm.
Para a vedação da escotilha, uma folha de EVA 3mm foi acoplada à tampa.
Os suportes do flutuador para a amarração às travessas tem 50 cm de comprimento. As oito amarras nas travessas são feitas com cabos de poliéster 8 mm, cada um com 5 m de comprimento.

Fotografia: Jack d'Emilia
Trilha sonora: "Deadly roulette" de Kevin Macleod
Edição do vídeo: Jack d'Emilia